Narrativas cinematográficas, humanizar histórias : jornalismo, documentário, desenvolvimento humano : os casos Divergente (Portugal) e Cross Content (Brasil)
PT
As narrativas de informação audiovisual — videojornalismo, reportagem e documentário—, podem visibilizar histórias de desenvolvimento humano na arena pública. Todavia, há ainda muitas vozes em falta. A narratividade e a cinematografia oferecem condições estilísticas que permitem ir além dos cânones do jornalismo convencional, que se clama que seja mais humanizado. Também se reivindica um modelo renovado de jornalismo especializado em desenvolvimento, capaz de traduzir e relacionar as circunstâncias dos desafios globais. A agenda das Nações Unidas contém categorias de valores-notícia que permitem visibilizá-los.
Assim, objetivamos investigar em que medida existe jornalismo para/de/sobre desenvolvimento humano nas narrativas audiovisuais dos prémios de jornalismo AMI — Jornalismo Contra a Indiferença (Portugal) e Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos (Brasil), contribuindo para visibilizar o outro, harmonizando com os objetivos globais.
Dividimos a nossa análise qualitativa em duas etapas de investigação. Primeiro, para testar a hipótese da existência de práticas dialogantes com o jornalismo para/de/sobre desenvolvimento, com primazia para as narrativas audiovisuais, mapeamos os trabalhos, analisamos o conteúdo, identificamos os temas, relacionando-os com os do jornalismo que se debruça sobre o desenvolvimento.
Dessa análise, validadas as conjeturas, emergiram dois estudos de caso onde a cinematografia é “a melhor forma de contar a história”: a reportagem multimédia Juventude em Jogo (DIVERGENTE) e o webdocumentário Rio de Janeiro — Autorretrato (Cross Content). Objetivamos, assim, analisar os discursos visual e textual, descrever a estrutura da narrativa; o que dizem as fontes-intervenientes; qual a relação com o tipo de planos e edição utilizados.
Os resultados demonstram que esses trabalhos de bottom up news constituem contra-esferas públicas, dão protagonismo aos subalternos, abrindo espaço na arena pública dominante, deixando-os conduzir a história, em forma de pseudomonólogo do documentário participativo, tornando-os sujeitos de desenvolvimento humano. A partir dessas constatações, propomos uma redefinição de jornalismo para/de/sobre desenvolvimento humano e um quadro referencial de melhores práticas de jornalismo narrativo audiovisual.
EN
The media audiovisual narratives — video journalism, reportage and documentary — can give visibility to stories of human development in the public sphere. However, there are still many voices missing. Narrativity and cinematography offer stylistic conditions that allow us to go beyond the canons of conventional journalism, which some claim needs to be more humanized. A renewed model of specialized development journalism is also called for, capable of translating and relating the circumstances of global challenges. The United Nations agenda contains categories of news values that can make them visible.
Thus, we aim to investigate to what extent can we find traces of developmental journalism (for/about) in the audiovisual narratives of the journalism awards AMI —Jornalismo Contra a Indiferença (Portugal) and Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos (Brazil), contributing to make the other visible, harmonizing with the United Nations’ global agenda.
We divided our qualitative analysis into two stages. First, to test the hypothesis that there are dialogical practices with developmental journalism, with prominence for audiovisual narratives, we map the works, analyze the content, identify the themes, relating them to those that literature connects to journalism that focuses on development.
From this analysis, once the conjectures were validated, two case studies that use cinematography as “the best way to tell the story” emerged: i.e., multimedia storytelling Juventude em jogo (DIVERGENTE) and web documentary Rio de Janeiro - Autorretrato (Cross Content). Hence, through content analysis, we examine the visual and textual discourses, describe the structure of the narrative; what do the sources say; what is the relationship with the type of plans and edition used.
The results demonstrate that these bottom-up news narratives constitute public counter-spheres, giving prominence to the subalterns, opening space in the dominant public arena, letting them lead the story, in the form of a pseudomonologue of the participatory documentary, making them subjects of human development. Based on these findings, we propose a redefinition of developmental journalism (for/about) and a framework of best practices for audiovisual narrative journalism.